quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Relatório final da disciplina A Cidade Constitucional – Ano de 2009



Relatório final da disciplina
A Cidade Constitucional – Ano de 2009



 



Professor: Dr. Marcelo Arno Nerling
Aluno: Geraldo Otavio Milet Candido Freitas – nº USP – 6774846




São Paulo
2012
1. A viagem

No dia 05 de setembro de 2009 saiu da EACH um ônibus com destino à Brasília, composto por professores - o idealizador do projeto, caríssimo professor Marcelo Nerling, e também o professor de Gestão Ambiental interessado por contribuir, professor Paulo Almeida - e estudantes de Gestão de Políticas Públicas (GPP) e Gestão Ambiental (GA).
A viagem durara em torno de 24 horas, devido à uma falha no motor do ônibus que ocorreu nas cercanias de Goiás, na cidade de Catalão - Por sinal, cidade bela, de povo pacífico e sorridente; cheguei até a me apaixonar por uma catalã, uma pena que era noiva!

 

Débora Tomaziwski e Isabella Vallin frente à placa de Catalão.


Seguindo viagem, chegamos à Brasília e fomos direto à ENAP – Escola Nacional de Administração Pública -, que, para um aluno de GPP, aquilo é um sonho de consumo: Além de ser oficialmente o local de treinamento – leia-se intermediário- que prepara um aprovado pelo concurso para o cargo de Especialista de Políticas Públicas e Gestão Governamental, ali é rodeado de pessoas que se interessam pela área pública, uma biblioteca que te faz repensar se vale comer uma pizza ou comprar mais uma “delícia em folhas”, e também possui um ótimo alojamento, o que faz do local uma “Ilha paradisíaca para os amantes da coisa pública”.



Caiu a noite e conheci meu parceiro de quarto, Luiz Felipe Sabino, que contou-me sobre toda a história de sua família e como eram os coronéis na época de seu bisavô; foi um belo curso de FESB (Formação Econômica e Social Brasileira) que tive com ele durante os dias e as noites Brasilianas.

Luiz Felipe Sabino, aproveitando os momentos em Brasília




2. A Capital da República fala français


Iniciando as visitas aos órgãos governamentais, passamos pelo STF e também visitamos rapidamente o palácio do planalto, todavia, ambos estavam fechados devido ao feriado nacional. Porém, neste dia 07 de setembro fomos ao desfile oficial, aonde tive a alegria de ver as forças armadas se apresentando – infelizmente não consegui ver o nosso ex-presidente Lula-, e, para mim que sou um amante da cultura francesa, ainda que fosse o nosso 07 de setembro, eu pude ver – juntamente com os colegas – a esquadrilha da fumaça tecer o céu de vermelho, branco e azul, as cores da bandeira francesa, em homenagem ao ano da França no Brasil. Para mim estava demais: o povo brasileiro nas ruas, uma co-produção de elementos republicanos explícitos, vangloriando a nossa história, e de brinde uma saudação à França! Fui no ano certo à Brasília!

Bom, continuando o percurso, ainda neste dia tivemos várias oportunidades de conhecer a urbanização de Brasília, tanto na passagem pela rodoviária (um tanto turbulenta, talvez devido à festividade) quanto rapidamente em frente à Catedral, o suficiente para nos encher de surpresa, devido à sua beleza.


Niemeier caprichou a mão, não só na catedral, mas em todas as suas curvas...

Pensar no planejamento urbano de Brasília, de forma única e proposital, com as precisões das ruas e avenidas, é algo que só pode ser feito estando lá, pois ao vislumbrar a magnitude que a cidade oferece sobre você, a questão das “asas”, o distanciamento de um ponto ao outro, nos leva à concluir que somente de automóvel pra poder cruzar a cidade, o bom é que o transporte público é bem organizado.

Mais atividades! Pela primeira vez eu fui à uma orquestra na minha vida, e vou lhes dizer: que coisa estupenda! Causa um efeito sobre você, ainda mais se pensar que é algo “culto” e você está rodeado de pessoas da USP... pelo menos era isso que eu pensava quando estava lá dentro, por isso eu acho que influenciou mais ainda a minha avaliação acerca do que era vivenciar um momento de orquestra.

Dia seguinte foi um dia bem cheio, pois, tivemos um encontro com o IPEA para conhecermos como trabalhava-se a questão do planejamento econômico dentro do cenário federal, além do fato de visitarmos posteriormente  a responsável pela casa civil, que esteve em posição de honra dentre a nossa consideração, pois, ainda que a visita tenha sido curta, pudemos conhecer plenamente vários níveis de poderes dentro da ordem executiva federal.

Ainda tivemos direito à visita ao museu do JK, que, ao apreciar o acervo, permitia-nos sentir o reviver da história de um homem ousado, assim como toda a trama que envolveu a sua vida. Quanto à museu, também o museu da república, repleto de objetos que suplantaram os nossos primeiros órgãos públicos de alto escalão – como é o caso da primeira mesa que o primeiro Supremo Tribunal brasileiro utilizou-se - , a nossa primeira bandeira de formato atual, roupas de Dom Pedro II e muitos outros apetrechos. Ainda que tal museu fosse de porte pequeno, afirmo que é de grande valia uma visita descompromissada ao mesmo ( tal museu fora visitado, salve engano, no último dia de cidade constitucional, todavia faz-se mais palatável incluí-lo neste bloco devido ao contexto).



No final de quase todas as noites íamos ás pizzarias brasilienses... Caro leitor, se você programa uma visita à Brasília, por favor, não se esqueça de visitar, pelo menos, uma pizzaria de lá: as pizzas são servidamente recheadas, além de conter sabores antes não vistos num cardápio de paulistano – como é o caso de jabá com girimum, carne com pêssego, dentre outros -, elas, não sei atualmente, mas em 2009 costumavam ser de bom preço (por volta de 15 reais), com equipe muito simpática, onde até mesmo o próprio gerente vinha às mesas para fazer alguma brincadeira bonachona, porém de muito bom grado. Esta fora uma parte extasiante à todo “Cidadeconstitucionalista”, se assim posso nos chamar.

3. Uma lição que marcou a minha vida

Agora entrarei num feito que marcou mais do que tudo na minha viagem ao Cidade Constitucional, pois ainda que falte contar-lhes acerca do Sr. Abramovay no Palácio da Justiça, de nossa visita à camara dos deputados onde pudemos participar de uma


   Dia do julgamento de Cesare Batisti

sessão que, ainda que mirrada, fora de muita afeição para nós ao sermos citados ao vivo, e também do italianão Cesare Battisti que estava sendo julgado pelo STF neste mesmo dia ( o 3º), o que irei relatar trata-se de um aprendizado valorativo que, por ocasião do destino eu viria a vivenciar e, passando da vergonha à correção, hoje tomo como uma disciplina para mim e creio ter afeiçoado à minha maneira de viver. Voilà, não vou deixá-los mais curiosos acerca do que é.

Pra quem não sabe, eu entrei no curso de GPP com uma única intenção que era a de me tornar um bom gestor público para seguir carreira política. A política, naqueles primeiros meses, corria em minhas veias quase rasgando a carne, era algo doce, palatável, que eu sonhava e buscava saber cada vez mais acerca de políticos que desempenhavam mudanças significativas na vida de pessoas.


Eu e meus colegas, na primeira vez que sentei numa tribuna num órgão público


 Pois bem, nessa situação de conhecer gente da área, saber como é o cotidiano dos eleitos e tudo o mais que cerca a vida do mesmo, eu, por contato de uma amiga, fui apresentado ao até então presidente nacional da juventude do PMDB... caro leitor, aquilo pra mim era tão resplandescente quanto se eu soubesse que naquele instante que havia ouro no quintal de casa, era algo mais do que novo pra mim, e que eu busquei ter tanto cuidado, mas tanto cuidado com aquele contato que eu nem mesmo conhecia, que cheguei a perder por algumas horas a atenção acerca das atividades da Cidade Constitucional. Bem, vejamos aonde isso daria:
Contato intermediado pela amiga, faltava agora uma oportunidade de conhecê-lo; ele ficava na câmara dos deputados, num desses gabinetes escondidos por lá, mas... como eu iria chegar lá se nem ao menos visita teríamos antes do dia 10?  E eu queria muito conhecê-lo, por mim, naquele instante! Pois bem, pensei: “Vou arriscar, vou sair de uma das atividades, pegar um taxi ou coisa do tipo e vou até lá, vai ser rapidinho e nem vai dar tempo de darem por falta de mim”. E lá se foi o Milet, escolhi uma das visitas para não ir, calculei 2h para fazer a visita, no horário do almoço, peguei um taxi – o esfolou umas notas de mim mas não tinha problema, eu iria conhecer um cara importante e com hora marcada só pra mim!
Cheguei ao tal do gabinete e fui recebido no tempo esperado, tomei um capuccinno feito em maquina expressa servido pela mão do próprio senhor Salazar – o tal presidente da juventude – e conversamos por uns bons minutos, ele me falou acerca da participação da juventude na política, jogou mais ainda minhas esperanças para as alturas, me deu um monte de dicas; fui grato a ele por ter-me recebido e saí, como quem dá o primeiro beijo de sua vida, quase flutuando pelos corredores... Horas? 1 e meia. Caí no chão de novo, dei por conta que 2h teríamos que estar em frente ao Itamarati - salve engano – e saí agora correndo por aqueles, até então belos, mas agora intermináveis corredores e escadarias; corri, corri, corri e nada de achar um taxi na rua, até que uns 15 minutos depois me surge um bom taxista que me levaria até o local que eu precisava ir. 2 e 15 +- eu cheguei, e, sim, estava parado o ônibus da USP, alguns alunos por lá e tudo mais, só que, quando me viram tomaram um susto: Benjamin, Benjamin, aonde vocês estava??? Procuramos por você por várias horas e nada!

Caraca.... eu havia me esquecido de avisar alguém que eu iria sair, e se tem algo que me deixa chateado e saber que fiz com que outras pessoas perdessem de alguma forma o seu tempo por mim... lá estava eu, com cara de pastel em frente a todo mundo, e mais, querendo uma explicação. Dei a explicação, fui sincero, falei que saí por conta pra visitar um amigo, que não precisavam se preocupar; bom, a turma entendeu, porém, um único homem chegou em minha direção com um olhar que estava mais afiado do que a espada do próprio Thundercats pegando fogo; era o professor Nerling.

- “Geraldo, aonde estava? Estávamos todos lhe procurando”
- “Recebi um convite professor, fui visitar um homem que trabalha com política aqui em Brasília, porém cheguei na hora marcada da visita”
-“Geraldo, achamos que você estava perdido em algum lugar que fora visitar, ligamos para vários locais perguntando por você, foi algo preocupante para mim que sou o responsável por vocês em Brasília. Quanto a você visitar alguém da área da política eu acho interessante, todavia de forma alguma da maneira com que fez”
-“Perdoe-me professor, eu não tive a intenção; apenas achei que eu poderia aproveitar algo interessante que surgiu inesperadamente pra mim aqui em Brasília”
-“Imagino mesmo que tenha sido muito interessante Geraldo, todavia, se era tão interessante assim, porque então não pensaste em teus amigos? Porque você não os convidou para vivenciar tal atividade tão importante contigo? Você não teve algo que é importantíssimo para qualquer gestor público que merece sua devida posição, faltou-lhe a visão do gestor”

Não havia mais nada a ser dito. Agradeci e retirei-me, um tanto chateado com o que tinha feito e pensando nas palavras do professor.
 Depois disso, tudo seguiu em ritmo normal; participei de todas as outras atividades que havia comentado anteriormente, e, durante a noite do mesmo dia busquei re-encontrar o professor Nerling e consegui, agora porém em ritmo muito mais calmo, onde pudemos trocar mais palavras e pude compreender o quanto um aluno para ele era importante, e, pelo incrível que pareça, o aluno em si, como vida, como quem era, também era na mesma medida importante. Nos entendemos, nos abraçamos e continuamos a jornada. Ainda assim as palavras do professor Nerling não me saíam da cabeça e realmente decidi decodificá-las para entender o que era ter essa tal “Visão do Gestor”.

Hoje tenho uma gratidão tremenda a Marcelo Arno Nerling por ter-me dito aquelas palavras naquele exato momento. É possível que qualquer pessoa tenha a visão do gestor e não necessariamente seja um gestor declarado de alguma coisa, todavia, não é possível que um gestor, ainda mais de políticas públicas, não tenha a visão do gestor. A visão do gestor é a capacidade que um indivíduo tem de colocar-se numa situação em que ele em questão está envolvido em uma malha de outros indivíduos, que tal interconexão se move plurilateralmente se ele próprio se mover, como a tenda de um circo que se movimenta com o simples movimento de uma de suas estacas. Portanto, quando este indivíduo faz parte de um todo, cada movimento dele influencia diretamente a vida de outros indivíduos, tanto para bem quanto para mal, o mesmo ainda, se tiver capacidade, pode mover toda a malha ao levar o grupo à situações que o próprio julga - de maneira egoísta – serem boas ou ruins, o que, incrementalmente, muda SIM a vida de cada um.

Eis aquele que ensina com sabedoria.

Sou grato professor, por ter-me ensinado algo tão significante para a minha vida, sei que já fora repassado, e outras vidas estão, cada qual da sua forma e no seu tempo, ruminando em suas mentes a visão do gestor.

Voltamos, nos despedimos e aqui estou, no 8º semestre de Gestão de Políticas Públicas, recuperando de um acidente e lutando para ser digno daquilo que eu tenho em minhas mãos.

Um abraço do Benjamin,
















Geraldo Milet.

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